Em um mercado tão amplo e tão intenso como o da medicina estética, entender particularidades e respeitar contornos e referências é o que ajuda a garantir a excelência do setor, sobretudo em relação à atualização de protocolos e à inovação.
É por isso que os encontros, as trocas e a intersecção de experiências em nível global são tão fundamentais. Essa foi a característica mais pulsante do Merz Aesthetics Expert Summit, que reuniu uma seleção de 500 médicos altamente especializados, de 50 diferentes países, em Viena, na Áustria, entre os dias 18 e 20 de novembro.
Gonzalo Mibelli, presidente da Merz Aesthetics Latam, conta que esse olhar plural é um dos principais legados da empresa. “Essa possibilidade de reunir informações dos mais diferentes lugares, respeitando a diversidade multi-racial, com a experiência de profissionais de tantos países diferentes, é uma preciosidade. Em um encontro como esse, além da apresentação dos destaques do portfólio, também existe a conexão de pessoas, um networking robusto dos principais líderes de cada área. Não foi um trabalho fácil reunir os maiores cérebros do mercado, mas essa é nossa prioridade. Eles dividem detalhes de projetos particulares, status de outros estudos, publicam conjuntamente em revistas médicas a partir da conexão que fazem durante este encontro. É um movimento importante para acelerar os processos de inovação que podem beneficiar o mercado inteiro”, pontua.
Entre tantas mentes brilhantes, um assunto que chamou atenção de maneira especial do público especializado foi sobre o uso de recursos para promover a regeneração celular. A dermatologista brasileira, residente da Itália e uma das painelistas do quadro “Turning Back the Clock” Gabriela Casabona, falou sobre as inovações relacionadas a bioestimulação do colágeno e a necessidade de criar comunicação entre as matrizes celulares e também sobre a busca por tecidos biodinâmicos, possibilitando o trabalho de renovação natural da células.
Martina Kerscher, dermatologista da Alemanha, também tratou de atualizar sobre um velho conhecido dos procedimentos estéticos: a toxina botulínica. “Há 20 anos, a toxina botulínica surgiu para fins cosméticos para paralisação dos músculos, buscando reduzir as marcas de expressão. E foi uma revolução! Mas como ele continuou a ser estudado, ganhou novas aplicações e hoje é usado para aumentar a qualidade da pele e até mesmo para ajudar a reduzir o tamanho dos poros do tecido”, ressaltou.
Para entender a amplitude dos tratamentos e as aplicações cada vez mais assertivas e personalizadas, falar sobre diversidade de maneira profunda e específica é fundamental. E a cada nova temporada de estudos, novos temas ganham atenção da comunidade médica.
Uma das maiores autoridades no estudo da pele negra, a dermatologista Cheryl Burgess, de Washington, D.C, por exemplo, faz uma importante ressalva que pode mudar o ponto de partida da maioria dos protocolos. “No tratamento da pele negra, mais do que o cuidado com as rugas, que aparecem mais tardiamente, é importante ficar de olho na perda de gordura da pele, que promove a flacidez facial ainda antes do aparecimento das rugas”, esclarece.
Outra brasileira importante no cenário da dermatologia mundial, Bianca Viscomi, de São Paulo, surpreendeu a audiência com um estudo sobre a eficiência dos tratamentos minimamente invasivos para adaptações estéticas no cuidado de pessoas trans. Ela apresentou diferenças de formulações dos injetáveis, especificidades nas áreas de aplicação, sempre de olho no respeito das particularidades de gênero.
Técnica, ética e empatia
Para além das questões técnicas e de inovação funcional, as discussões ao longo do programa consideram diversos aspectos de relacionamento, ética e sobretudo uma preocupação importante sobre alinhar expectativas dos pacientes em relação a resultados.
Uma das colocações do dermatologista brasileiro Luiz Perez, de São Paulo, deixa claro a necessidade de estabelecer um diálogo correto, tanto com os pacientes como com o público em geral. “Eu não costumo usar a palavra tendência para falar sobre um tratamento estético. Tendências são parte de ciclos e pode fazer sentido para escolher roupas ou cabelos. Mas para aspectos corporais, para pensar formas do corpo, não tem relevância. Essas escolhas são, e devem ser cada vez mais, baseadas em questões pessoais, e não em tendências de mercado”, pontuou, ao ser questionado sobre o que achava sobre modas cosméticas como lábios russos e do foxy eye.
Mudanças de percepção sobre a própria estética também foram pauta – em um dos debates mais surpreendentes, comandados pelo cirurgião plástico austríaco Rolf Bartsch, de Viena.
O especialista lembra um ponto essencial que deve ser levado em consideração na conversa com o paciente quando tratando sobre alguma alteração corporal: o ponto de vista e a autopercepção mudaram: “As selfies interferem radicalmente na maneira como nos vemos. Primeiro, claro, pela possibilidade dos filtros. Mas acima de tudo porque o ângulo da selfie cria uma distorção das feições, que raramente são fiéis. O que acontece quando você tira uma selfie? Uma câmera pode oferecer entre 120 e 150 ângulos diferentes, e isso significa que cada selfie que você tirar você estará sempre diferente”, afirma, lembrando que é desse paciente, com olhares tão múltiplos sobre si próprios, que serão tratados em consultório.
Colocar assuntos de diferentes perfis em debate, e em perspectiva, são importantes não só para a evolução e aprimoramento de técnicas, mas sobretudo para promover o crescimento consciente de uma indústria que se multiplica em uma velocidade bastante acima da média.
O dermatologista de Miami, Estados Unidos, Jeremy B. Green, aponta a ampliação de público dos tratamentos estéticos como um ponto de atenção fundamental. “Tratamentos estéticos sempre foram vistos com olhares de privilégio, como algo elitizado, inatingível. Hoje as pessoas entendem que pode ser um recurso para todos. O perfil dos tratamentos mudou e a maneira como as pessoas se relacionam com eles também, e isso só aumenta a nossa responsabilidade”, concluiu.
Artigo original – Marie Claire – Técnica, ética e diversidade: olhares fundamentais para o futuro da medicina estética